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Disney aposta em Taylor Swift e no Fortnite para crescer

por Abílio dos Reis (Texto) | 12 de Fevereiro, 2024

Pressionada pelos investidores e depois de um 2023 difícil para os seus filmes, a Disney está à procura de novas formas para fazer crescer os lucros e anunciou duas apostas nesse sentido: no estrelato de Taylor Swift e uma entrada em grande no gaming.

Na semana passada, durante a apresentação do relatório de contas do último trimestre do ano, a Disney anunciou que, apesar de as receitas terem estagnado, conseguiu reduzir os custos e está a caminho de atingir ou até passar o seu objetivo de reduzir as despesas em pelo menos 7,5 mil milhões de dólares até ao final do ano fiscal de 2024, de acordo com a CNBC.

E para garantir que tudo corre conforme planeado com os acionistas, fez saber que o filme concerto “Taylor Swift: The Eras Tour” vai ser um exclusivo Disney+ e anunciou o investimento de 1,5 mil milhões de dólares numa parceria estratégica com a Epic Games, a dona do famoso videojogo Fortnite e da motor de videojogos “Unreal Engine”, que vai levar as “personagens e histórias da Disney, Pixar, Marvel, Star Wars, Avatar e muito mais” para o Fortnite (e o acordo também prevê que as duas empresas também trabalhem em conjunto para criar novos conteúdos originais).

  • mercado reagiu e depois destes anúncios as ações da Disney subiram 6% — ainda que também deva ter ajudado que um dia antes a Casa do Rato Mickey tenha feito saber que se ia juntar às gigantes Fox e a Warner Bros. Discovery na criação de espécie de “super plataforma” de streaming de desporto nos EUA que vai transmitir eventos como a Fórmula 1 ou as maiores ligas do país como a NBA (basquetebol), MLB (basebol) e NFL (futebol americano). 
  • Tendo em conta a batalha legal entre a Apple e a Epic, este investimento não deixa de ter o seu quê de ironia porque faz lembrar a máxima “amigos, amigos negócios à parte”. Isto porque Bob Iger, CEO da Disney, foi um dos convidados de honra de Tim Cook na apresentação dos Vision Pro na WWDC23 e a Disney+ é uma das plataformas “exteriores” à Apple que mais se destaca nos óculos por oferecer a possibilidade de ver filmes em 3D ou transformar a “nossa sala” num planeta Star Wars ou escritório dos Monstros e Companhia.

Os porquês

Quanto à aposta no gaming, em conversa com os acionistas, Bog Iger diz que ficou espantado ao constatar que a Geração Z e a Geração Alpha (e até certo ponto os millennials) passam tanto tempo de volta dos videojogos como dos filmes e da TV. Apercebendo-se disso, quis ter a certeza que “estava lá”, de preferência “o mais rapidamente possível”. O Fornite é um jogo que tem 70 milhões de jogadores ativos por mês e Iger espera agarrar muitos deles. E certamente que ter jogos baseados em franquias Disney entre a lista dos mais vendidos do ano também poderá ter ajudado (“Star Wars Jedi: Survivor”, da Electronic Arts, e “Marvel’s Spider-Man 2”, da Sony, por exemplo) na decisão.

Já esperar que Taylor Swift ajude a vender serviços de subscrição do Disney não espanta. É uma das maiores estrelas do entretenimento mundial, que enche estádios e tem uma influência e alcance que se estende pelos quatro cantos do mundo. Para se ter noção,
“Taylor Swift: The Eras Tour” fez mais dinheiro em bilheteira nos EUA que o último Missão Impossível, “Wonka” ou “The Hunger Games”. E portou-se inclusive melhor do que alguns filmes da Disney como “Elemental”, “Wish” ou “The Marvels”. No entanto, estes números pagam-se e não é pouco, caso se confirmem os alegados 75 mil milhões de dólares que a Disney deu para garantir os direitos exclusivos e superar a Netflix e a Universal.

2023 terrível e a pressão de Nelson Peltz

Por falar em bilheteira: 2023 não foi simpático para Disney. E aquele que devia de ter sido um ano de celebrações pelos seus 100 anos de magia, histórias e princesas, acabou por ser um festejo de centenário terrível (dos filmes dos super-heróis da Marvel aos da animação da Pixar, quase todos tiveram resultados aquém do esperado). E se olharmos para os números da Disney+, vemos que perdeu 1,3 milhões de subscritores só nos últimos três meses do ano depois de ter aumentado os preços do serviço (em Portugal, a subida registou-se em novembro e a mensalidade subiu de 8,99 euros para 10,99 euros) — número que pode ou não subir este verão quando a caça à partilha das palavras-passe estilo Netflix entrar em vigor.

  • Nota: apesar de ter perdido subscritores, a Disney registou um aumento da receita média por utilizador devido aos aumentos dos custos de subscrição. 


São dados que não agradam aos acionistas, particularmente ao investidor Nelson Peltz, que apela a uma mudança na empresa e quer que a Disney aumente os lucros do seu negócio de streaming e que melhore o desempenho dos seus filmes em termos de bilheteira. No entanto, há aqui uma nuance importante que tem de ser referida: Peltz quer um lugar na administração. O problema é que Bob Iger já insinuou não estar para grandes conversas e salientou que a “última coisa” que a Disney precisa é de se “distrair” com “ativistas” que não percebem nem do negócio, nem dos ativos da marca, e que têm uma “agenda” própria.

Em resumo: com dupla Epic Games/Taylor Swift, a nova plataforma de streaming desportiva, a compra de ações de acionistas e a luta contra a partilha de palavras-passe, a Disney espera conseguir provar aos acionistas que consegue ser disciplinada em relação aos custos ao mesmo tempo que consegue aumentar os lucros. Se isso vai ser suficiente para resfriar os ânimos do bilionário Nelson Peltz? Dificilmente, uma vez que Peltz fala em sentimento de “déjà vu”. “Vimos este filme no ano passado e não gostámos do final”, disse um representante de Peltz à BBC