Startups. Europa ganha terreno aos EUA e China, mas tem desafios pela frente
por Miguel Magalhães (Texto) | 4 de Dezembro, 2023
O “State of European Tech 2023” é um relatório produzido pela Atomico que permite analisar o panorama das startups europeias.
O aproximar do fim do ano é um ótimo momento para começar a refletir sobre as principais conquistas do ano e os desafios que ainda estão pela frente. Foi isso que o relatório “State of European Tech 2023”, produzido pela Atomico, procurou fazer na semana passada, dando algumas métricas que permitem perceber exatamente em que ponto está o ecossistema de startups europeias em termos de inovação, investimento e talento.
Comecemos por números grandes. Estima-se que em 2023 a Europa acabe o ano com cerca de 41 mil milhões de euros investidos em startups. É um número que mostra uma tendência decrescente, quando olhamos para os anos de 2022 e 2021, em que investiu 75 mil milhões de euros e 92 mil milhões de euros, respetivamente. Contudo, têm sido várias as publicações a identificar esses dois anos como atípicos e, ao olharmos, por exemplo, para 2020, já vemos que a tendência não só é de crescimento interno, como face a mercados como os EUA e a China.
Face a 2020, o volume investido na Europa cresceu 18% enquanto que nos EUA e na China diminui 1% e 7%, respetivamente. O Velho Continente continua atrás em termos de montante total, mas a evolução nos últimos anos dá uma indicação de aproximação e não o contrário. No caso americano, há outros dois números que demonstram uma maior maturidade do ecossistema europeu:
- Número de startups criadas: nos últimos 5 anos, têm sido criadas mais empresas na Europa do que nos EUA, de forma consecutiva. O documento identifica que por cá já temos +350 “billion-dollar companies”, 4 mil growth startups e 41 mil startups early-stage.
- Dependência do $$: em 2023, o valor investido por Europeus na Europa nunca foi tão alto, superando os 60% num ano em que o acesso a capital foi especialmente desafiante e onde instituições como o Fundo Europeu de Investimento desempenharam um papel importante.
Olhando para 2023
Entre a capitalização de empresas públicas e privadas, o ecossistema europeu voltou a estar avaliado em 3 biliões (trillion) de dólares, marca que tinha atingido no ano atípico de 2021. No entanto, o ano foi de contenção com o aumento das taxas de juro e da inflação, o que levou a que as grandes movimentações de capital fossem inferiores aos anos anteriores.
Apesar disto, a inteligência artificial foi o tema ecoado em todas as reuniões, conferência e apresentações e as startups com modelos de negócio e produtos assentes na mesma captaram grande parte do interesse dos investidores (mas não a maior do capital). Alguns dados mais concretos:
- As mega-rondas: Em 2023, houve 36 rondas com volume superior a 100 milhões de dólares. É o valor mais baixo desde 2018.
- Quem as conseguiu: Das 36 rondas, 11 pertenceram a empresas de IA, com grande destaque para as que estavam a desenvolver tecnologias de IA generativa (já vamos a elas).
- Big Picture: Embora a inteligência artificial tenha criado mais buzz nos media, foi nas Climate Tech, startups a lidar com a redução de emissões de carbono e com energia, para onde foi a maior parte do investimento europeu (27%).
Quais foram as principais rondas europeias?
1Komma5º: a startup desenvolveu uma “one-stop shop” para qualquer pessoa comprar e instalar painéis solares, estações de carregamento elétrico e outras tecnologias que melhoram o acesso a energia renováveis. Levantou uma Series B no valor de 430 milhões de dólares.
Aleph Alpha: é uma história ainda não refletida no documento da Atomico (até setembro de 2023), mas é por esta empresa que vão passar muitos dos esforços europeus para ter uma referência no desenvolvimento de modelos IA e na sua integração num conjunto de áreas. Levantou 500 milhões de dólares numa Series B.
Verkor: a empresa é uma das principais produtoras de baterias com baixas emissões de carbono e levantou uma ronda total de 2 mil milhões de euros (entre equity, dívida e subsídios) para construir uma nova fábrica em Dunkirk, a mesma região francesa do filme de Christopher Nolan.