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Web Summit Rio de Janeiro. Muito bom, mas sem bifanas

por Paulo Cardoso de Almeida | 5 de Maio, 2023

A primeira edição da Web Summit Rio de Janeiro contou com 20 mil pessoas e replicou formatos bem conhecidos em Lisboa. Diversidade e o papel das mulheres nas organizações foram temas em foco.


Até meados de março, a previsão de visitantes na Web Summit Rio girava em torno dos 5 mil a 10 mil participantes. Foram 20 mil, segundo a organização, e somando convites e equipa técnica o número poderá chegar aos 30 mil. Claro que ainda distante dos números de Lisboa – que em 2022 ultrapassou os 71 mil visitantes enlouquecidos por descobrir o que está por vir no mundo da tecnologia, mas o perfil de audiência não muda mesmo com um oceano de distância.

A Web Summit é um dos maiores eventos de inovação do mundo e, na sua edição carioca, podemos destacar que o foco da organização foi em banca/fintechs, venture capital, inteligência artificial e, óbvio, startups.

Nem tudo correu bem, mas é preciso entender que foi a primeira edição no Rio de Janeiro e que se apresentou com diversos desafios. A maioria dos problemas foi de ordem técnica: microfones que não funcionavam, problemas com decks de alguns palestrantes como o do apresentador Luciano Huck: “Gente, vou parar de falar em inglês porque meu inglês é péssimo e acabo de perder o TP (teleprompter), apareceu uma campanha de um banco aqui. O que faço?”. Tudo recebido com humor pela audiência.

Como a sessão de abertura do evento acontece num ambiente fechado, com limitação de pessoas, aproximadamente duas mil ficaram de fora, mas isso também acontece em Lisboa. Quem vai a um evento como esse, não estranha esse tipo de limitação.

Paddy Cosgrave na Web Summit Rio

O próprio Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, na área de entrevistas do evento, afirmou que houve um erro de cálculo baseado na baixa perspectiva de presença. É preciso dar um desconto. O evento em si foi muito bom e, certamente, na próxima edição estará mais bem preparado. E a gerar essa conexão incrível criada com pessoas de visões tão diferentes que estão a circular num mesmo ambiente.

O que dá um sabor especial ao evento é quando se quebra a aridez com uma das vozes mais ouvidas no Brasil, que é o caso da empresária Luiza Trajano, CEO da Magalu, uma rede de retalho que está entre as três maiores empresas no país. Luiza, como é simplesmente tratada, é uma mulher com atitude e dona de uma simpatia genuína capaz de abrir sorriso em qualquer semblante fechado. “O mercado mudou. O CEO que não estiver a contratar mais mulheres e mais negros, não estará a fomentar a diversidade em sua empresa. Ele não vai sobreviver”, ensina a CEO, “quem está a pedir isso é o consumidor final”. Antes de ser aplaudida pela plateia que lotou o palco principal para ouvi-la, Luiza ainda disse: “no cenário que vivemos, não podemos mais falar só em crescimento a qualquer custo, precisamos falar em crescimento com eficiência, além de empatia.”

Mas se há um tema que tem conquistado espaço sem fazer o menor esforço, é a Inteligência Artificial. Claro que não podemos dizer que foi surpresa, já que ferramentas como o ChatGPT fizeram tanto barulho nos últimos meses. Por onde quer que você esbarrasse numa palestra, lá estava a IA a ser abordada a partir do grande hype que se tornou a IA generativa. Na Web Summit Rio se falou sobre o avanço da IA e os desdobramentos de sua aplicação em variados setores, sem deixar de falar sobre a substituição da mão de obra humana. Isto tudo no momento em que se fala em aumentar eficiência com IA.

Alex Collmer, CEO da VidMob

No ecossistema do marketing digital, a IA também foi destaque em alguns palcos. Um deles, no palco Panda, a Inteligência Criativa foi explicada por Alex Collmer, CEO da VidMob, empresa americana líder global em seu segmento. Disclaimer: esta é a empresa com que atualmente trabalho e que conheço naturalmente melhor que as outras, mas acreditem quando digo que realmente ajuda a impulsionar as campanhas pondo fim no “achismo” criativo com o seu algoritmo. A VidMob apura com precisão, frame a frame, tudo o que existe na campanha e cruza esses dados com desempenho dos criativos nas redes sociais. Desse cruzamento surgem as golden rules da marca que respondem ao que funciona e o que não. E mais importante, ao porquê. “Nesse mar de conteúdo que está surgindo, capaz de preencher todos os espaços das campanhas com qualidade, quem se destacará? Aquele que souber falar diretamente com a sua audiência, sem ruídos”, apontou Alex Collmer. Respondeu ainda a uma inquietação atual que é sobre a substituição da mão de obra humana pela IA: “Não é a IA quem vai substituir alguém em seu emprego. Quem fará isso será aquele que melhor souber utilizar a IA em sua função.”

À esquerda, Cristina Ferreira. À direita, Txai Suruí, líder indígena e ativista pela preservação da Amazônia.

A Web Summit Rio de Janeiro trouxe ao palco a diversidade e a importância da presença da mulher na liderança das organizações. Para fomentar a presença de mulheres, dinamizaram, como também acontece em Lisboa, a iniciativa “Women in Tech” que ofereceu ingressos com 75% de desconto, além de palestras com diversas figuras de destaque, desde a influencer brasileira Boca Rosa – que conta com 18 milhões de seguidores no Instagram e 5,4 milhões no YouTube – à fundadora do Black Lives Matter, Ayo Tometi. Contou inclusive com a líder indígena e ativista pela preservação da Amazônia, Txai Suruí, uma representante dos povos originários do Brasil, anterior à chegada dos portugueses. Já a presença feminina de Portugal foi garantida por Cristina Ferreira, e como prova de que tudo na vida pode melhorar, ao contrário do que aconteceu na Web Summit Lisboa, no Rio de Janeiro ela não vendeu bifanas e falou mesmo em português.

Paulo Cardoso de Almeida é jornalista e designer brasileiro