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E se todos começássemos a usar o Bing?

por Miguel Magalhães (Texto) | 10 de Janeiro, 2023

Bing

Hoje olhamos para uma rivalidade que tem tudo para aquecer nos próximos meses. O ChatGPT e as diferentes aplicações que recorrem a AI tornaram este espaço o tema do momento e abriram portas para empresas que pensavam já ter perdido algumas batalhas. A Microsoft é uma dessas empresas e está de olho na Google.

Era uma guerra há muita dada como terminada.

No período de crescimento mais acelerado da Internet, a Google superiorizou-se a todos os restantes incumbentes e ganhou a hegemonia do mercado da pesquisa, atingindo na última década uma quota de mercado de cerca de 92%.

Em 2021, só o motor de pesquisa já gerava +150 mil milhões de dólares em receitas de publicidade para a Alphabet, a empresa-mãe da Google, do YouTube, da Android e das restantes subsidiárias da tecnológica de São Francisco.

Mas na vida e no mundo dos negócios nada dura para sempre e é expectável que algures num futuro próximo haja uma empresa capaz de rivalizar com a Google. A concorrência é algo que gostamos de ver em todos os mercados, dado que normalmente costuma significar, por um lado, inovação e, por outro, preços mais simpáticos para utilizadores das plataformas ou produtos rivais.

Dito isto, ao que tudo indica, aparentemente a competição não vai estar numa nova startup, mas sim num antigo adversário da Google – a Microsoft – que está a procurar revitalizar o seu motor de pesquisa, o Bing. A plataforma é regularmente alvo de algum humor devido à fatia do mercado que detém (cerca de 3%), mas é importante não esquecer que, mesmo assim, continua a ser um negócio muito rentável.

  • Até junho de 2022, o Bing teve mil milhões de visitas e gerou receitas de publicidade superiores a 8 mil milhões de dólares. O equivalente às receitas do Twitter, do Snapchat e do TikTok… em conjunto, para colocarmos em perspetiva.

Uma conversa que muda tudo

Em 2019, a Microsoft decidiu investir mil milhões de dólares numa pequena startup chamada OpenAI, que se propunha a investigar a implementação de tecnologias de inteligência artificial numa série de áreas, dos videojogos à escrita de texto. Um desses projetos era e é o ChatGPT, que depois de ter sido lançado ao público em novembro, tem feito a maravilha de milhões de pessoas, que têm partilhado casos de uso nas redes sociais.

  • Resumo: o ChatGPT é uma plataforma na qual podemos interagir com um chatbot e receber respostas às nossas questões como se estivéssemos mesmo numa conversa, em vez das habituais mensagens pré-formatadas às quais estávamos mais habituados ou à proposta de links que está na base do funcionamento da Google.
  • Popularidade: Demorou 5 dias a alcançar 1 milhão de utilizadores, que perguntaram de tudo, desde receitas culinárias a ensaios académicos sobre um tema qualquer.

Contudo, Sam Altman, CEO da Open AI, tem dito repetidamente que, para já, a plataforma não devia ser utilizada para “nada que fosse importante”, dada a sua fase prematura de desenvolvimento (e alguns erros em respostas que têm sido identificados).

No entanto isto não parece demover a Microsoft de planear um comeback com o Bing e perceber como é que o motor podia integrar uma tecnologia como o ChatGPT, num contexto em que os utilizadores esperam que a experiência de pesquisa na Internet seja cada vez mais conversacional. Se o Bing for o primeiro a conseguir isso, poderá conseguir converter muitos de nós, que utilizamos o Google para tudo e mais alguma coisa. Seja pelo Windows, seja pelas soluções de cloud, seja pelo hardware que a Microsoft vende, consigo vê-los a conseguir operacionalizar isto rapidamente.

Porque é que a Google não responde?

Tem tudo a ver com risco.

O Bing tem 3% de quota de mercado e representa apenas uma pequena parte das receitas da Microsoft. A Google e os seus serviços derivados de publicidade (com o YouTube) representam quase 70% das receitas totais da Alphabet.

Por isso, a Google tem muito mais a perder, em termos de reputação, com a apresentação precoce da sua versão do ChatGPT do que a Microsoft e a Open AI. Enquanto os seus rivais podem dar-se ao luxo de utilizar o lançamento de uma plataforma (que está longe de estar pronta) como uma campanha de marketing para o seu potencial futuro, a Alphabet tem de se preocupar com o impacto que eventuais adversidades dessa tecnologia podem ter na sua principal “cash cow”. Daí proceder com muita calma.

  • Brevemente: a Google tem estado a trabalhar na sua própria versão de pesquisa conversacional com o LaMDA, Language Model for Dialogue Applications, e deveremos saber mais novidades em 2023.