Musk comprou o Twitter e a discussão que se segue é sobre quanto vale a liberdade de expressão
por The Next Big Idea | 26 de Abril, 2022
25 de abril de 2022. Na lista das efemérides do dia entrou a compra do Twitter por Elon Musk, o multimilionário que adora e odeia o Twitter.
Elon Musk pagou 44 mil milhões de dólares para ficar dono do Twitter e a administração aceitou. A mesma administração que uma semana antes discutia o “comprimido envenenado” que poderia dissuadir o empresário da sua proposta de compra.
Olhemos para os números. Elon Musk entrou na corrida pelo Twitter no início de abril quando comprou 9,2% da empresa que estava avaliada em 35 mil milhões de dólares. Duas semanas depois, a 14 de abril, apresentou uma proposta para comprar as restantes ações da empresa – em dinheiro. Nessa proposta ofereceu 54,20 dólares por ação, o que colocava a rede social a valer 43 mil milhões de dólares. Ou seja, dava a ganhar 8 mil milhões aos acionistas que vendessem.
Porquê? Numa carta enviada a Bret Taylor, presidente do Conselho de Administração do Twitter, Musk escreveu que investiu na empresa porque acredita “no seu potencial para ser a plataforma da liberdade de expressão em todo o mundo”, além de considerar que a “liberdade de expressão é um imperativo social para uma democracia funcional”.
“O Twitter tem um potencial extraordinário. Eu vou desbloqueá-lo”, foi o que disse Musk.
Tudo mudou em 22 dias
Recordemos as datas chave do negócio:
- 4 de abril: Elon Musk anuncia que comprou 9,2 % do Twitter, tornando-se assim o maior accionista individual
- 5 de abril: A administração oferece um lugar no conselho a Musk e ele recusa
- 14 de abril: Musk faz uma oferta para comprar o Twitter, além da sua participação, por 43 mil milhões de dólares
- 15 de abril: O conselho de administração adota a estratégia de “poison pill” para prevenir uma compra hostil por Elon Musk
- 21 de abril: Elon Musk garante financiamento para a compra, incluindo 25 mil milhões em financiamento da dívida liderado pela Morgan Stanley
- 25 de abril: Twitter aceita a oferta de Elon Musk
E é precisamente aqui, mais duas semanas volvidas e com a compra consumada, que se centram as discussões. O que vai fazer Elon Musk com uma rede social que sempre teve mais “status” do que retorno financeiro?
Para já, a discussão, a começar por aquela que corre no próprio Twitter, é sobretudo de carácter ideológico e Elon Musk é bom a alimentar polémicas. Menos de 10 dias antes de consumar a compra do primeiro lote de 9,2 % de ações, o agora dono do Twitter publicava o seguinte post na plataforma:
Num comunicado de imprensa divulgado ontem, a rede social sediada em São Francisco, na Califórnia, anunciou que, na sequência da compra por Elon Musk, será retirada de bolsa, deixando o estatuto de sociedade aberta. Ou seja, o Twitter passa a ter um dono daqui para a frente. E o dono fez a sua primeira publicação após o negócio voltando a falar de liberdade de expressão.
De que se fala nas 24 horas a seguir à compra?
-O Twitter vai ficar pior
É a opinião de Tim O’Brien na Bloomberg para quem Elon Musk é o líder errado para a plataforma e não está à altura de gerir uma empresa de media. “As contas são esquisitas, tal como as intenções de Musk. Os dois fatores em conjunto prometem fazer deste negócio um potencial descarrilamento e vão fazer os investidores, gestores, utilizadores e a sociedade em geral pensar de forma mais clara e séria sobre o papel desempenhado pelas empresas de redes sociais numa era ameaçada pela propaganda e pela desinformação”.
-O Twitter vai ficar na mesma
Megan McArdle escreve no Washington Post uma versão de “too big to fail” mas desta vez no sentido de que nada mudará na plataforma com a compra por Elon Musk. O título do artigo é elucidativo: “Comprar o Twitter é uma coisa. Mudá-lo? Boa sorte com isso”.
– O Twitter pode mudar porque Musk abre caminhos
É a opinião de Patrick Jenkins no Financial Times (conteúdo para assinantes). Na opinião do analista do FT, Musk faz parte de uma nova geração de acionistas ativistas e esse é o objetivo desta compra é exercer esse ativismo abrindo outros caminhos para o Twitter.
-E a pergunta que todos fazem é:
Irá Donald Trump regressar ao Twitter agora que Musk, um seu simpatizante, está aos comandos? O ex-presidente americano, que há poucas semanas lançou a sua própria rede social, já disse que não, mas não deixou de elogiar o novo dono. “Espero que Elon compre o Twitter, porque vai melhorá-lo e é um homem bom, mas eu fico no Truth”, disse Trump que foi suspenso do Twitter em 8 de janeiro de 2021 (com quase 89 milhões de seguidores) por incitar a violência e propagar notícias falsas.