Joana Vasconcelos: “Não é só atrair turistas para os fazer gastar dinheiro, queremos partilhar a nossa cultura”
por Inês F. Alves (Texto) e Pedro M. Santos (Fotografia e vídeo) | 20 de Março, 2022
É através da partilha que “conseguimos perspetivar uma nova dimensão de nós próprios”, defende Joana Vasconcelos. E o turismo é, por excelência, um setor de partilha de experiências, histórias e culturas. Para diferenciar-se, Portugal tem de dar ênfase às suas qualidades e usar todos os meios disponíveis para comunicar uma narrativa positiva e transformadora. É aqui que a arte pode ajudar.
“Para que haja um melhor turismo é preciso dar ênfase às qualidades que o país tem e isso passa por valorizar o património, a gastronomia, a cultura, o nosso território, nos seus diferentes aspetos, e levar isto, através da comunicação, a outros locais onde não nos conheçam”, diz Joana Vasconcelos.
A artista plástica falou com o The Next Big Idea no final de um debate cujo ponto de partida era “ideias que mudam o mundo”. A conversa, que contou também com a empresária Roberta Medina e Juliet Kinsman, jornalista da Condé Nast, foi promovida pelo NEST – Centro de Inovação do Turismo, no âmbito do evento “What’s Next – Innovating Tourism”.
Neste sentido, continua, “a comunicação e a partilha são fundamentais para atrair pessoas ao nosso país, para nos virem descobrir e também para partilharem connosco a sua cultura — porque é dessa partilha que nasce uma evolução”.
Na ótica de Joana Vasconcelos, “não é só atrair turistas para os fazer gastar dinheiro, queremos partilhar a nossa cultura. É diferente, é fazer gastar dinheiro de partilhar”.
“Não só creio que temos coisas muito boas para partilhar, como creio que aprendemos muito com todos aqueles que nos vêm visitar. E podemos, no fundo, valorizar-nos muito mais através dos olhos dos outros do que às vezes nós próprios conseguimos fazer. É da partilha que a evolução e a expansão acontece, porque é na valorização de outros sobre o que nós fazemos e do que aprendemos com os outros que conseguimos perspetivar uma nova dimensão de nós próprios”, defende.
A arte pode ter, no ato da partilha, um papel fundamental porque “tem a capacidade de criar empatia, de criar transformação, porque é uma linguagem não-verbal e, portanto, não depende de tradução ou interpretação”, diz Joana Vasconcelos.
Depois, “a forma como contamos uma história, a narrativa que usamos, é muito importante para criar espaço para que os outros nos oiçam”, nota.
“Partilhar sem narrativa, sem uma ideia, sem um sonho, não tem grande sucesso. Por outro lado, se partilharmos algo negativo, se partilharmos raiva, medo ou insegurança, isso não é transformador, não nos faz evoluir. Penso que hoje em dia é muito importante sermos positivos e olharmos para o futuro de uma perspetiva de transformação evolutiva” — sobretudo “num mundo global, onde a tensão é global. Neste contexto, uma experiência positiva é muito do que as pessoas procuram”.
A arte “pode ser uma partilha que dá esperança. Um bom concerto, um bom livro, um bom almoço, uma boa praia, são estas experiências positivas que nos fazem acreditar que vale a pena defender este planeta, que faz sentido defender a nossa cultura e partilhá-la com os outros, de forma a que continue a existir”.
A mudança, essa, como em quase tudo, começa no indivíduo: “a ideia de que todos podemos contribuir [para um mundo melhor] vem de dentro de nós. Podemos sempre escolher ter uma atitude positiva ao invés de uma atitude negativa. Por vezes é difícil fazê-lo, mas é possível”.