Luís Araújo: O turismo tem de olhar para o futuro “com muito otimismo e muita responsabilidade”
por Inês F. Alves (Texto) e Pedro M. Santos (Fotografia e vídeo) | 21 de Março, 2022
As lições dos últimos dois anos, em que a pandemia obrigou a “confinar” o turismo, não devem ser esquecidas, mas capitalizadas.
A Bolsa de Turismo de Lisboa regressou este ano, depois de dois anos de pandemia que colocaram à prova a resiliência de um setor estratégico na economia portuguesa.
“Foram dois anos muito duros para todos”, assinala Luís Araújo. Talvez por isso, a primeira palavra do presidente do Turismo de Portugal e do NEST seja de “agradecimento pela colaboração, pelo apoio, pela entreajuda no desafio permanente que foram esses dois anos”. Um agradecimento, “não apenas em nome do Turismo de Portugal ou do NEST, mas em nome de qualquer cidadão”, às empresas deste setor que “se mantiveram e se agarram à esperança”.
Agora é tempo de olhar para o futuro “com muito otimismo e muita responsabilidade”, diz. “Não podemos deixar estes dois anos de sofrimento cair em saco roto. A aposta que fizemos na formação, tivemos mais de 120 mil pessoas formadas e qualificadas ao longo destes dois anos, no cuidado com o outro, através da adoção do selo Clean & Safe, na atenção ao cliente e ao consumidor não pode ser esquecida, porque hoje, mais do que nunca, é preciso cuidar das pessoas e cuidar do planeta também. Esta mensagem de sustentabilidade tem de se manter para sempre”, defende.
E sustentabilidade é, para Luís Araújo, um tema “sobretudo de pessoas”, desde “os colaboradores do setor, para que tenham perspetivas de carreira, aos turistas, para que tenham a melhor experiência quando visitam o nosso território, até àqueles que moram aqui, para que vejam o turismo como uma força para o bem”, acrescenta.
A sustentabilidade deve estar “casada com a responsabilidade e muito ligada à sociedade. É essencial que se olhe para sustentabilidade na ótica do respeito pelo outro, da diversidade, inclusão, de abraçarmos um setor que é diferente e abraçarmos a diferença nesse setor”, conclui.
Luís Araújo falou ao The Next Big Idea no âmbito do evento “What’s Next – Innovating Tourism”, promovido pelo NEST – Centro de Inovação do Turismo, que deu palco próprio à inovação na 33ª edição da BTL. Aqui, ao longo de três dias, foram vários os oradores a refletir e a partilhar conhecimento nas áreas da sustentabilidade, da digitalização e das pessoas — desde o futuro do trabalho à inclusão.
“Depois destes dois anos, em que fomos forçados a fazer um stop e a pensar no futuro, acreditamos que estas são essas as áreas que nos trazem mais vantagens competitivas, que valorizam mais a autenticidade do nosso território, que valorizam as pessoas e, principalmente, que acrescentam valor a quem nos visita”, diz Luís Araújo.
O palco BTL Lab by NEST recebeu ainda várias startups que partilharam as soluções que estão a desenvolver e que podem ser motor de transformação nesta indústria.
“O setor do turismo sempre foi muito focado no produto e serviço” e, apesar dos esforços, nos últimos anos, para abraçar a inovação e a tecnologia, “precisa deste estímulo, deste choque em muitos casos, para evoluir”, nota Luís Araújo.
“Há cinco anos, quando levámos pela primeira vez às feiras de turismo startups foi uma surpresa. Para algumas empresas até foi um choque, porque estávamos a tirar espaço às empresas tradicionais para levar empresas novas, com modelos de negócio que eram muitas vezes disruptivos e muitas vezes complementares. Eu acho que a grande vantagem foi perceber-se que éramos perfeitamente complementares. Aliás, as startups que foram no início fizeram muito mais negócio com as empresas que estavam dentro do stand do que com as que estavam fora”.
Desde então, a aposta tem-se mantido. “Esta viagem do Fostering Innovation in Tourism [promover a inovação no turismo] é o grande programa do Turismo de Portugal para a inovação, com mais de 1200 startups nestes quatro anos e mais de seis milhões de euros de investimento, precisamente porque percebemos que esta aposta traz-nos muitas vezes mais retorno do que esperávamos: é ver empresas a construírem-se, é trazer novidade, é obrigar-nos a olhar de forma diferente para as coisas e desafiar as empresas que têm muitos anos no setor a responderem também de forma diferente aos desafios”.
Portanto, conclui, “a presença do NEST – Centro de Inovação do Turismo na BTL é precisamente por isso, para mostrar às empresas que apesar de ser importante focar no produto e no serviço, é preciso fazê-lo com inovação, trazendo a tecnologia e apoiando-nos no digital para aumentar a eficiência do nosso negócio”.