A busca por uma melhor qualidade de vida constitui hoje um objetivo essencial para muitas pessoas, um pouco por toda a Europa e EUA. Para além da questão financeira, as pessoas procuram cada vez mais viver uma “boa vida” e ser mais felizes. Este não é, contudo, um desejo novo. Desde os tempos da Grécia Antiga, que Aristóteles definiu a palavra “eudaimonia”, como a felicidade, que de acordo com o autor, expressava o auge humano, isto é, o objetivo supremo da vida que todos procuravam alcançar. Mas o que é afinal a qualidade de vida?
De acordo com a Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Trabalho e de Vida (EuroFound), a qualidade de vida está relacionada com a possibilidade de as pessoas alcançarem os seus objetivos e escolherem o seu estilo de vida ideal. Contempla três pilares fundamentais: as condições objetivas de vida – as infra-estruturas e equipamentos existentes; o bem-estar subjetivo – a avaliação subjetiva que cada pessoa faz da sua qualidade de vida; e a qualidade percebida nas relações sociais. E porquê falar de qualidade de vida agora? E porquê nos Municípios?
É notória a importância que a qualidade de vida tem vindo a ganhar nos anos recentes. A nível internacional, para além da EuroFound, a própria OCDE tem-se esforçado por avaliar a qualidade de vida de países, cidades e regiões. Tendo por base as várias dimensões – como a Saúde, o Ensino e Formação, a Economia e Emprego, o Ambiente, a Segurança, Diversidade e Tolerância, entre outras – as comunidades procuram, cada vez mais, avaliar a sua qualidade de vida. Recorrendo à análise, quer dos equipamentos existentes, quer de sondagens à população, a avaliação permite obter um retrato fiel das condições de vida numa dada comunidade.
Por isso, a avaliação da qualidade de vida é cada vez mais entendida como uma ferramenta estratégica a ser utilizada pelos municípios e regiões. Ao avaliar, obtêm-se um diagnóstico completo do que as pessoas mais valorizam – o que torna possível identificar o que os municípios verdadeiramente oferecem, em termos de infra-estruturas, experiências e condições de vida – e assim introduzir planos de melhoria. Atuando desta forma, e numa lógica de marketing territorial, os Municípios conseguem dar a conhecer o que de melhor o seu concelho tem para oferecer – quer aos munícipes, às empresas e aos potenciais investidores. Mais: conseguem mostrar os principais investimentos e as melhorias efetivas que têm introduzido, rumo à melhoria das condições de vida das suas populações e das suas empresas. Esta lógica de melhoria contínua e monitorização permite tornar o Município mais diferenciado e atrativo, levando-o a captar mais munícipes, mais empresas e mais investimento.
Para além de contribuir para a melhoria e diferenciação dos municípios, a avaliação tem outra mais-valia: é um instrumento democrático, apreciado pela população, dado que revela a preocupação dos governantes locais para auscultarem as verdadeiras necessidades dos cidadãos, e atuarem em conformidade. A medição da qualidade de vida é entendida como uma responsabilidade dos governos, esta tem sido, pelo menos, a indicação de alguns estudos efetuados. A título de exemplo, no livro recentemente publicado por Ryan Yonk e Josh Smith “Politics and Quality of Life. The Role of Well-Being in Political Outcomes”, os investigadores revelaram que a avaliação da qualidade de vida é já uma ferramenta plenamente utilizada por estados como Washington DC ou Califórnia, como forma de mostrar os investimentos efetuados e assim projetar uma imagem atrativa.
* Professora da Universidade de Lisboa
Presidente da Direção do INTEC – Instituto de Tecnologia Comportamental