Coinbase. Um passo gigante para as criptomoedas
O ano era 2010 e Brian Armstrong (sem parentesco com o mais sonante Neil) era apenas um engenheiro da Airbnb, responsável pela segurança de pagamentos feitos na plataforma para diferentes regiões em diferentes moedas. Um dia, deu por ele a ler um paper científico de um autor que assinava sob pseudónimo chamado Satoshi Nakamoto, que explicava como se podia criar uma moeda digital descentralizada a que chamou Bitcoin. Nessa altura, Armstrong estava longe de imaginar que a moeda que via ali descrita ia valer mais de 50 mil dólares uma década mais tarde.
Contudo, durante uns meses, decidiu acumular dois trabalhos: ao longo da semana garantia que milhares de clientes da Airbnb conseguiam aproveitar as suas férias, ao sábado e ao domingo dedicava-se a desenvolver um serviço que permitisse que as transações mais seguras desta moeda e de outras como ela que entretanto iam surgindo. Começou por chamar ao seu projeto BitBank, nas primeiras conversas com investidores. Em 2012, já fora da Airbnb e com apoio de alguns investidores, fundou a Coinbase, a primeira plataforma de trading 100% focada em criptomoedas.
A maior estreia em Bolsa desde o Facebook
A evolução da Coinbase ficou naturalmente ligada à preponderância que as criptomoedas foram ganhando nos últimos anos, nomeadamente a Bitcoin. E como seria de esperar, o ano (2020) em que a Bitcoin cresceu cerca de 820%, foi também o período em que a empresa deu um salto gigante, que a catapultou para se tornar na primeira empresa de criptomoedas a entrar na bolsa americana, na semana passada. A Coinbase acabou o primeiro dia como empresa pública a valer mais de 86 mil milhões de dólares, a maior estreia desde o Facebook, em 2012, com modesta avaliação de 104 mil milhões de dólares.
Um rápido perfil à empresa:
- 56 milhões de utilizadores
- 1.8 mil milhões de dólares em receitas no 1º trimestre de 2021. Este valor foi superior à soma dos anos de 2019 e 2020.
- 95% das receitas da Coinbase vêm de taxas de transação.
- 41% das transações na sua plataforma são em Bitcoin (o volume de transações em bitcoin passou de 80 mil milhões de dólares em 2019 para 355 mil milhões apenas no 1º trimestre de 2021).
- 11% de todas as transações de criptomoedas passam pela Coinbase.
- Uma das políticas da Coinbase é não ter atuação política. No ano passado, por exemplo, a empresa foi criticada pela sua inércia nas manifestações “Black Lives Matter”.
- Bónus: Brian Armstrong é “ligeiramente” parecido com Lex Luthor, o vilão de Super-Homem.
O que significa esta entrada em Bolsa?
A maior parte das opiniões convergem na ideia de que é mais um passo na legitimidade das criptomoedas enquanto ativo financeiro e meio de pagamento. Muitos chegaram a apelidar o acontecimento de “momento Netscape 2.0”, aludindo à empresa americana tida como uma das principais responsáveis pela popularidade da Internet nos anos 90. A Coinbase nunca escondeu o seu desejo de criar uma cripto-economia, um sistema que pudesse substituir aquele que tem o dólar como referência e que, de acordo com Armstrong, é ineficiente e cria custos desnecessários para os utilizadores. No entanto não deixaram de existir algumas vozes a expressar algum ceticismo face ao futuro da empresa:
- o objeto da empresa faz com que se torne um alvo de regulamentação do governo americano (que obviamente gosta muito do dólar);
- apesar da maior credibilidade, as criptomoedas são muito voláteis e ainda podem ser uma bolha à espera de rebentar, o que faz com que a Coinbase tenha um elevado nível de risco associado.
- a Coinbase enfrenta uma duríssima concorrência de plataformas que até oferecem mais oportunidades de investimento que a sua e terá de continuar a comunicar bem a sua vantagem competitiva: a segurança do seu serviço.
O investimento da semana? O empreendedor americano Garry Tan, com a entrada da Coinbase no Nasdaq, transformou um investimento de 300 mil dólares na empresa em 2 mil milhões de dólares de retorno (+ de 600.000%). Peaners.
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