100 anos de Disney. O estúdio que continua a fazer sonhar gerações
por Abílio dos Reis (Texto) | 16 de Outubro, 2023
Fundada por dois irmãos há precisamente 100 anos, a Walt Disney Company nasceu como um pequeno estúdio de animação na Califórnia e transformou-se num gigantesco conglomerado de entretenimento que hoje vale vários milhares de milhões de dólares. Num século de vida, pode gabar-se de contar um número de façanhas como poucas. Mas mais do que os inúmeros prémios que os seus filmes conquistaram ou os muitos milhões que gera anualmente, o seu maior feito está na sua influência cultural e na maneira como tocou no coração e imaginário de múltiplas gerações e famílias. E só por isso, merece os parabéns.
Pequeno exercício: é-nos possível imaginar uma vida inteira sem passar os olhos por um filme da Disney? Obviamente que sim, mas desenhar no nosso cérebro tal cenário é uma tarefa muito difícil quando se fala de um estúdio que alimentou o imaginário da cultura popular, literalmente, durante um século. Tenhamos cinco, 20, 30 ou 60 anos de idade, a verdade é que a sua magia tocou a todos.
É por isso que hoje, em plena celebração do seu centenário, não é difícil de resumir a sua história: a Disney produziu muitos dos filmes mais adorados de sempre (sem esquecer, claro, que é também responsável por alguns momentos trágicos que arrasam qualquer um e que ainda continuam a fazer lacrimejar muito adulto via trauma de infância; sim, refiro-me especificamente às mortes da mãe do Bambi e à de Mufasa) e é um dos maiores conglomerados internacionais de entretenimento do mundo (e que pelo meio gera receitas anuais na ordem dos 22,3 mil milhões de dólares).
Para comemorar a data e a apagar as 100 velas de um enorme bolo na companhia de desenhos animados, super-heróis, piratas, princesas e sabres de luz, o estúdio produziu uma curta-metragem de nove minutos na qual desfilam nomes bem conhecidos de todos nós. Desde o Rato Mickey, passando pela Princesa Elsa ou pela Sininho, mais de 500 personagens da Disney ganham vida nesta declaração de amor ao estúdio de animação.
A origem da Casa do Rato Mickey
Depois de ter estado a conduzir ambulâncias da Cruz Vermelha em França no final da Primeira Guerra Mundial e de passar uma temporada numa agência de publicidade de Kansas City, o cartoonista Walt Disney chegou à Califórnia no verão de 1923 como muitos outros daquele tempo: repleto de sonhos e seduzido pela Hollywood dos “Loucos Anos 20”, mas com pouco mais do que isso. Ainda assim, tinha um plano: convencer uma distribuidora a pegar na sua história sobre uma menina que vivia num mundo de desenhos animados (“Alice’s Wonderland”). A aposta foi ganha — a M. J. Winkler, de Nova Iorque, encomendou uma série de curtas de animação (mudas) da pequena Alice no dia 16 de outubro de 1923, data que marca o início oficial da Disney. Primeiro enquanto Disney Brothers Cartoon Studio, com Walt Disney e o seu irmão, Roy, a tomar as rédeas do pequeno estúdio enquanto sócios igualitários; depois já como Walt Disney Studio.
Porém, na história do sucesso da empresa não pode só constar os nomes de Roy e Walt. Há uma terceira figura: Ub Iwerks, cartoonista e animador, amigo de Walt, que desenhou um rato com orelhas grandes que ficou algo conhecido nos quatro cantos do mundo (que era para chamar-se Mortimer, mas a mulher de Walt, Lilian, sugeriu que fosse Mickey). Mickey é um marco importante não só por ser a estrela de “Steamboat Willie” (1928), o primeiro desenho animado a incorporar totalmente o som sincronizado, mas também porque mostrou a Walt Disney que era possível ganhar muito dinheiro com uma personagem acarinhada pelo público — a popularidade de Mickey foi o ponto de partida na venda de licenças para anúncios publicitários e também da produção de merchandising.
Em vida, Walt Disney ganhou Óscares como ninguém (é a pessoa que mais triunfou nos prémios a nível individual, com 26 estatuetas e 59 nomeações), fez parte da rotina de milhares de famílias americanas através das séries de antologia da Disney que passavam na televisão e transformou o seu sonho (a Disneyland) numa realidade muito lucrativa para a empresa. Quem tiver curiosidade em saber mais sobre a origem dos parques de diversão, que ganharam vida porque Walt queria criar o “sítio mais feliz da Terra”, recomendamos vivamente a série documental “The Imagineering Story“, disponível no Disney+.
O legado
Apesar da sua imaginação e criatividade inquestionáveis, o “Tio” Walt era um perfeccionista exigente, de poucos elogios e um patrão difícil (o The Guardian explica mais em detalhe como os seus hábitos obsessivos ajudaram a construir este império de 100 anos). E tendo falecido em 1966, aos 65 anos, de cancro do pulmão (era um ávido fumador), embora fosse um dos nomes mais conhecidos da América, já não viu a sua empresa com cruzeiros, estâncias de férias, canais de televisão, plataformas de streaming ou estúdios com personagens que vão dos super-heróis a espécies que habitam em galáxias muito, muito distantes.
Mas se a The Walt Disney Company hoje é muito diferente (já são mais anos sem Walt Disney do que com Walt Disney) da empresa familiar que o pai do Mickey, do Donald e do Pateta idealizou há um século, a realidade é que o seu espírito e visão permanecem eternos. Não só pelos filmes e personagens que criou, mas também porque nos mostrou que os sonhos, por maiores que sejam, podem tornar-se uma realidade — temos é que “ter a coragem de os perseguir”.